A maioria das pessoas conhece-as em Beja com as irmãs de Santa Maria, devido à casa que têm no largo que recebe o mesmo nome, mas, na verdade, são as irmãs da Congregação das Oblatas do Divino Coração. Tem a seu cargo a gestão do Patronato de Santo António, entre outras valências na região, e, para além do apoio à infância, aventura-se agora no apoio permanente aos mais idosos. Uma congregação nascida no Alentejo. Uma congregação de mulheres que se ofereceram à igreja, à diocese, à região.
O Patronato de Santo António, instituição particular de solidariedade social, está ao serviço da comunidade bejense há anos. Instalou-se num antigo convento e o edifício foi restaurado pela Congregação das Oblatas do Divino Coração nos anos 50. Ainda hoje é a congregação que se encarrega da sua gestão. Mas se durante anos funcionou como escola primária, atualmente conta com as valências de creche e pré-escolar e irá ainda, brevemente, abrir as suas portas aos mais idosos.
Um lar com capacidade para 40 utentes. Trata-se do Lar D. José do Patrocínio Dias e, segundo a Congregação das Oblatas do Divino Coração, não poderia ter outro nome. E a explicação, essa, é simples: a congregação surgiu no coração do Alentejo, nomeadamente durante o movimento de restauração da Diocese de Beja, impulsionada pelo seu fundador, o bispo D. José Patrocínio Dias.
Mas quem são estas irmãs oblatas, que, passados tantos anos, continuam a alimentar o projeto social do Patronato de Santo António? Oblatas “são as ofertas a Deus, Pão e Vinho”. Oblatas são “mulheres que se oferecem à Igreja”. Oblatas “são irmãs que se oferecem a uma diocese”. Oblatas do Divino Coração porque o são “do Divino afeto, nos caminhos do mundo, na história de toda a Igreja, na Igreja de Beja”.
Esta semana a irmã Maria do Céu Valério, superiora-geral, apesar das portas da instituição de solidariedade social estarem sempre abertas a quem as procura, convidou o “Diário do Alentejo” e entrar e deu a conhecer a história, a vida do patronato, mas também da congregação que esteve na base da sua fundação e ainda o gere.
“Este trabalho nunca é de uma pessoa. É de um grupo. Estamos aqui três irmãs e todos os outros funcionários são colaboradores leigos”, começa por explicar a irmã Maria do Céu Valério. E acrescenta: “O D. José do Patrocínio Dias foi um grande restaurador da diocese e, entre outras coisas, fundou a Congregação das Oblatas do Divino Coração. Antigamente o Patronato de Santo António era um convento e depois da expulsão das ordens religiosas o governo ficou com o edifício. D. José conseguiu que devolvessem este espaço à Igreja para que aqui fosse constituída uma obra social”.
Obra social, esta, que se prepara para crescer. “Quando abriu esta era uma casa só para as raparigas mais desfavorecidas, que vivia dos donativos dos lavradores da região. Deixavam sacos de feijão e grão à porta. As irmãs contam que, na altura, se num dia se comia grão, no outro comia-se feijão. Mais tarde abriu-se a escola, porque existia a necessidade das raparigas frequentarem as aulas. Depois foi crescendo e começou a sentir-se a necessidade de se receber mais crianças e já antes do 25 de Abril se tinha conseguido abrir o jardim de infância”, conta a irmã.
A creche chegou em 1998. “Havia muita procura de creche e as salas estavam cedidas ao Ministério da Educação. Quando a escola saiu daqui, nomeadamente para Santa Maria, conseguimos dar resposta a mais crianças. Neste momento temos seis salas em creche e seis em pré-escolar”.
E como surge o lar? “Queríamos abranger os idosos. A nossa preocupação é sempre a de ajudar as famílias”, diz. Até porque, de acordo com a irmã Céu, como é conhecida na cidade, “a congregação acabou sempre por estar ligada à terceira idade”. “Estávamos num lar, mas tínhamos falta de irmãs e não conseguíamos dar resposta a todas as solicitações”. “Tínhamos espaço. Tínhamos vontade e achávamos muito importante proporcionar este encontro entre crianças e idosos e resolvemos apresentar a candidatura ao InAlentejo”, avança. Encontro que poderá, se tudo correr bem, acontecer já em setembro, com a inauguração do lar. Um investimento de 2 070 000 euros, financiado em 70 por cento por fundos comunitários e em 30 por cento pela Congregação das Oblatas do Divino Coração.
Desde 1926, ano em que D. José do Patrocínio Dias chamou ao paço um grupo de seis jovens mulheres, falando-lhes da necessidade que a diocese tinha de encontrar pessoas que tornassem a sua vida oferta à Igreja, que as irmãs oblatas agarraram uma vida espiritual intensa, tendo por base a ação social e a missão evangelizadora. Passados tantos anos, os trabalhos e obras que lhe foram confiados pela diocese continuam de pedra e cal e, de acordo com a irmã Céu, “este é um trabalho, uma vida compensadora”.
As irmãs garantem que mantêm a sua total disponibilidade, sempre em prol do próximo, do amor ao outro. “Nunca nos aventurámos muito para fora. Sempre fizemos muita falta no Alentejo. A Congregação das Oblatas do Divino Coração não é muito conhecida, porque o nosso trabalho tem sempre sido feito maioritariamente nesta região. Dirigimos também, por exemplo, o Jardim de Infância Nossa Senhora da Piedade, em Odemira. Mas temos, como todas as congregações, falta de vocações”, adianta a superiora-geral. A congregação, neste momento, conta com 14 irmãs, distribuídas entre Beja, Odemira, Almada e Fátima.
“Sentimos que as pessoas que nos conhecem nos sentem como sendo as suas irmãs. Os alentejanos são pessoas que têm fé. Acho que falta é mais prática religiosa”, diz, e, apesar da falta de vocações, garante: “Olhamos para esta congregação e para o seu futuro com grande esperança”.
Texto Bruna Soares Fotos José Serrano